A propina e o descaso
Enquanto, esta semana, os meios de comunicação davam ênfase à cobrança de uma taxa - ilegal e criminosa - por parte de um médico que atendia pelo Sistema Único de Saúde em um hospital filantrópico de Ilhéus para privilegiar alguns na fila do suplício, o jovem Wagner Bastos vivia seu périplo no maior hospital público da cidade. Pedia encarecidamente pelas redes sociais que a neurologista escalada para o trabalho comparecesse ao Hospital Geral. Que fizesse a sua obrigação. Postava imagens de baratas e outros bichos no chão do seu quarto de internação e pedia mais respeito ao direito constitucional de ter uma saúde gratuita e de qualidade.
Enquanto o "50tinha" chegava às mãos de quem já recebia do estado pelo serviço, Wagner deixava, por conta própria - e assumindo todos os riscos - o hospital, desesperado por não ter, 15 dias depois, um diagnóstico do seu quadro de saúde, que só piorava. Um dia depois, Wagner não resistiu. Morreu. Tinha 32 anos, uma vida de militância política, uma vida inteira pela frente.
Afinal, onde vamos chegar? Ou paga ou morre? Será este o nosso destino? Quando as autoridades tomarão posturas mais radicais para garantir o mínimo de respeito para quem procura socorro em momentos tão difíceis quanto o da doença? Quantos morrerão silenciosamente em nome da falta de respeito e da mediocridade dos quem têm a obrigação - e ganham por isso - de dar as mãos para quem precisa?
Ilhéus não suporta mais. Morrer no hospital por falta de atenção e de atendimento tem no coração de todos nós o mesmo sentimento da morte de um inocente nas mãos de um bandido cruel e sanguinário, que não pensa nos filhos que ficarão órfãos e nas mães que chorarão por uma vida inteira vitimada pela insensibilidade alheia. Ou as autoridades agem com rapidez ou muitas mortes, depois desta, estarão à caminho, alicerçadas em novos gestos do descaso e do desrespeito, quando deveriam ser de apoio e proteção.
É preciso perguntar: afinal, de quem é mesmo a culpa destes verdadeiros assassinatos disfarçados de atendimento e de atenção?